domingo, 29 de março de 2015

CRATERA DE DARVAZ, A "PORTA DO INFERNO"!

Um dos lugares mais curiosos do mundo é, sem dúvida, a Cratera de Darvaz, também conhecida como "A Porta do Inferno", localizada no Turcomenistão, país da Ásia Central e que já foi uma república soviética. Darvaz , vale dizer, é uma pequena aldeia daquele país, localizada no deserto de "Kara Kum".


A Porta do Inferno.
 Fotografada por Tormod Sandtorv (CC BY - SA 2.0)

 A fabulosa "Porta do Inferno" é, na verdade, uma cratera com 60 metros de diâmetro e 20 metros de profundidade, que está em chamas desde 1971. A abertura surgiu a partir de escavações dos soviéticos em busca de petróleo e gás natural. A partir disso, e considerando-se que a cratera estava cheia de gases tóxicos, os soviéticos resolveram queimá-la. O fato é que a fenda continua queimando até hoje, indefinidamente.

Existe uma corrente minoritária de pesquisadores que afirma que a formação é natural. 

segunda-feira, 23 de março de 2015

O PALIO, A GRANDE FESTA DE SIENA!

Siena, na Toscana, é uma cidade belíssima. Mas o que faz de Siena uma cidade diferenciada é mesmo a expectativa gerada, o ano todo, pelo "Palio di Siena", o mais fabuloso festival italiano.

"Palio di Siena" é uma festa típica da urbe, cujo ápice é uma corrida de cavalos, que ocorre na "Piazza Del Campo", ou "Campo" para os sienenses, todo dia 02 de julho, com repeteco no dia 16 de agosto, às 19 horas. São dezessete "contrades', representando bairros da cidade, dos quais dez são sorteados para o primeiro embate, em Julho. Em agosto, no segundo e mais importante embate, os sete que não foram sorteados participam automaticamente, sendo que os outros três participantes saem do sorteio entre os dez que disputaram em julho.


O Palio de Siena. Bandeiras das contrades e corrida de cavalos. 
Em foto de cartão-postal da cidade.

A origem do Palio é superinteressante. Os distritos sienenses, chamados "contrades", são o resultado do declínio do governo central, ainda na Idade Média. Ganharam força, e deu-se o início ao festival. O principal dos eventos, o de agosto, iniciou-se, no século XIII,  como uma homenagem à Virgem Maria e, também, como comemoração da vitória sobre Florença na batalha de Montaperti.  O festival de julho, por sua vez, só foi aprovado em 1656, e é uma homenagem à figura religiosa de Nossa Senhora, mais especificamente à "Madona di Provenzano".

Interessante observar que, no século XIII, os contrades eram em torno de 80. Desses, hoje apenas 17 lutam pela hegemonia da cidade.

Os dezessete distritos são divididos em três "terzos" (espécies de regiões da cidade): Cittá (Aquila, Chiocciola, Capitana Dell´Onda, Pantera, Selva, Tartuca); San Martino ( Civetta- coruja, Leocorno, Nicchio, Valdimontone, Torre) e Camolia (Bruco, Drago, Giraffe, Istrice, Luppa e Oca). Curiosamente, muitos dos distritos são representados por animais - coruja, pantera, tartaruga, dentre outros.

O ponto alto é mesmo a corrida de cavalos, que demora menos de dois minutos. Também o tremular das bandeiras, feita por representantes de cada contrade, e os tambores constituem um grande espetáculo.

Vale destacar que existem outros "palios" por toda a Itália; no entanto, o mais famoso mundialmente é mesmo o de Siena.

É praticamente impossível assistir à festa, já que a multidão toma conta da "Piazza". Mas é possível fazer reservas em hotéis para assistir de uma posição mais confortável, já que, no meio da multidão, o turista teria que chegar bem cedo e esperar muitas horas para conseguir seu objetivo.

domingo, 22 de março de 2015

OS VINHOS TOSCANOS!

Toscana é uma das principais regiões vinícolas do mundo - ali tudo é propício para o desenvolvimento das uvas e, em decorrência, da viticultura, desde os campos até o clima. Em suma, um paraíso para os  enófilos.

Os principais vinhos da região são o "Brunello di Montalcino", o "Vino  Nobile di Montepulciano", o "Chianti" (representado pelo "gallo nero"), o "Vernaccia de San Gimignano" e os menos reconhecidos "Super Toscanos". 

Destes, apenas o Vernaccia de San Gimignano é branco - o único vinho branco respeitado da região, já que os tintos são os melhores, mais famosos e mais conhecidos internacionalmente. Vale destacar: os brancos não são feitos com uvas típicas da região.

O mais valorizado dos vinhos tintos toscanos é, indiscutivelmente, o "Brunello di Montalcino". A sua produção é cuidadosa: feito inteiramente das uvas sangioveses, é envelhecido por pelo menos 04 (quatro) anos. Das sobras de uvas, é feito o seu "primo" menos famoso: o "Rosso di Montalcino".

No tocante ao Chianti, algumas explicações são necessárias. Primeiro, há de se destacar que "Chianti" era o designativo da região localizada entre o sul de Florença e o norte de Siena - é a zona original. Após, houve uma expansão do nome, para alcançar áreas centrais da Toscana. Hoje, a área original, entre Florença e Siena, é chamada de "Chianti Classico".

A marca do Chianti Clássico. O Galo Negro.

No que se refere aos Chianti, os vinhos clássicos, que possuem o galo negro como símbolo nos rótulos, são considerados os melhores. Todos os vinhos Chianti são regulamentados, sendo obrigatório pelo menos 75 a 80% de uva sangiovese na composição. O mais caro é o que advém do estoque chamado "riserva".

Os barris.
Por sua vez, o "Vino Nobile di Montepulciano" é um intermediário entre o "Brunello" e o "Chianti". É menos ácido que o último e mais suave que o primeiro. Assim como o Brunello, tem uma versão mais barata: o "Rossi di Montepulciano".

Os Super Toscanos são criticados justamente por não terem uma identidade característica toscana - usam uvas de outras regiões, como a "cabernet sauvignon" e a "merlot". A origem dos "Super Toscanos" é a década de 70, época em que muitos produtores revoltaram-se contra as imposições de regulação dos vinhos toscanos. Passaram, com isso, a misturar e a envelhecer vinhos de maneira inovadora. São menos valorizados, mas alguns são muito apreciados, a exemplo do Sassicaia e o Tignanello.

A Itália atribui rótulos de qualidade aos vinhos: o IGT, o DOC e o DOCG.

O DOC (Denominazione d´Origine Controllata) indica que o vinho precisa ser produzido numa região específica, com um regramento próprio, que inclui a variedade de uva e técnicas de viticultura.

Por sua vez, o DOCG (Denominazione d´Origine Controllata e Garantita) é o selo de maior prestígio. Somente 08 (oito) vinhos na Toscana possuem tal honraria (44 na Itália): Brunello di Montalcino, Carmignano, Chianti, Chianti Classico, Morelino di Scansano, Vernaccia di San Gimignano, Vino Nobile di Montepulciano e Elba Aleatico Passito.  São os produzidos em subterritórios de áreas DOC.

Já o IGT (Indicazine Geografica Típica) é a categoria dos supertoscanos. São de alta qualidade, mas não tem as características DOC ou DOCG.

A Toscana, de olho no mercado turístico, criou "stradas del vino". São várias, a exemplo da "Strada del Vino Nobile di Montepulciano" ou "Strada Del Vino Costa Degli Etruschi", que são duas das principais. Todas têm, em comum, mapas, itinerários, sendo possível degustar vinhos em "cantines" (adegas) e "enoteches" (bares de vinhos). Vale a pena alugar um carro ou mesmo fazer a rota por bicicleta.

Enfim, uma síntese do que há de melhor em vinhos toscanos. Aproveite e curta cada momento de prazer em terras toscanas!

"VACA IS NO PROBLEM", O LOUCO TRÂNSITO INDIANO!

Beep, beep! A onomatopeia clássica indiana. O primeiro som mais forte que se ouve desde a saída do aeroporto. E bota forte nisso! São milhares de buzinas ao mesmo tempo! O trânsito mais desorganizado e bagunçado do mundo. A primeira pergunta: como achar  espaço para tanta gente e tantos veículos? Muitas motos, muitas bicicletas, muitos "tuk-tuks", muitos "riquixás", muitas pessoas, muitos carros, muitos animais. Tudo "muito". Tudo "over".  Eis o mistério da fé indiana. A fé de que andar nas ruas, dirigir, não vai trazer nenhuma conseqüência. A fé em que os motoristas mais malucos do mundo não farão nada além de buzinar e seguir seu caminho em meio ao caos.  A fé em que você irá se "encaixar", seja em riquixá, em "tuk-tuk", moto ou mesmo em carro comum, em meio ao caos. 

Dizem os indianos que, para ser motorista naquele país, são necessários três “goods”: good horn, good brake e good luck. Em bom português, "boa buzina, bom freio e boa sorte".

Realmente, eles têm razão. Ao menor sinal de uma vaca ou um búfalo atravessando a rua, eis que surge a instituição nacional indiana: a buzina. É buzina pra lá, é buzina pra cá, uma festa completa. Buzina, na Índia, não é considerada ofensiva; é, antes de tudo, uma necessidade. E bota necessidade nisso... Para se ter uma ideia, até os caminhões estimulam a buzina. Em vez de frase de para-choque, há uma indicação ao motorista incauto que vem atrás dizendo "por favor, buzine".

Certa feita, em uma viagem entre Jhansi  e Kajhuraho, ao perceber o medo que eu sentia das vacas na pista, o motorista indiano sentenciou, em um portunhol misturado com inglês: “Vaca is no problem”.  De fato, é quase um mandamento indiano: “Vaca is no problem”. A vaca, calma e sagrada, dizia ele, é muito inteligente e sempre anda em linha reta, nunca atrapalhando os motoristas. E completou: “Touro is burro”, embora a recíproca não fosse verdadeira (“burro” no is “touro”, em um portunhol misturado com inglês, novamente).

A vaca é mesmo um caso incrível – é o único ser vivo que o motorista indiano acredita, uma vez que ela não muda a direção na pista. Todos os outros animais que povoam as estradas, ruas e avenidas daquele país são considerados perigosos- cavalos, búfalos, galinhas, elefantes, camelos e, principalmente, os humanos.

Na faixa de pedestres indiana, a vaca tem a preferência...

Nessa mesma estrada, entre Jhansi e Kajhuraho, tivemos a oportunidade de presenciar a mais engraçada experiência do trânsito indiano: a linha de trem fechada. De um lado, o pessoal que vinha de Kajhuraho para Jhansi; de outro, nós, que queríamos chegar nos famosos templos eróticos hinduístas. Formou-se duas facções de motos, carros, caminhões, tuk-tuks, de um lado e de outro. E na hora que abriu? Muito engraçado. Cada um tentando se encaixar e seguir adiante. Lembram da osmose, aquela liçãozinha de biologia dos tempos de colégio? É exatamente o processo que ocorreu aqui. É mais ou menos um pedestre tentando seguir em frente vindo mil do lado contrário, só que com veículos...

A sorte dos indianos é que andam em velocidade baixa; caso contrário, o índice de acidentes nas grandes cidades seria triplicado. Quando estive por lá, dei muita sopa no trânsito, e não vi nenhum acidente, nem nas grandes cidades, nem nas estradas, o que é um autêntico milagre de Shiva. Mas há estatísticas que indicam que a Índia é a campeã mundial de acidentes em estradas, com cerca de cento e trinta mil mortes por ano. Isso mesmo, cento e trinta mil, uma Araguari inteira mais um Ibiá. Tudo é superlativo na Índia...

Mas, vem a pergunta: qual a maior aventura no trânsito indiano? A resposta é rápida: andar de riquixá. O riquixá é uma bicicleta com uma cabine que dá para no máximo duas pessoas atrás. Ou seja, uma bicicleta com ares de charrete, uma versão do "tuk-tuk" sem motor. Nela, o "bicicleteiro" indiano faz um esforço descomunal não só para guiá-la, mas sobretudo para andar no trânsito. Não existe passeio com ou sem emoção: é sempre muito emocionante. Perto do riquixá, o "tuk-tuk" parece ser o meio de transporte mais seguro do planeta.


Os riquixás em uma nublada, caótica e poluída Délhi (a velha)...

O passeio de riquixá pelas ruas de Velha Delhi é uma autêntica aventura...

Aliás, o "tuk-tuk" é uma atração à parte. Táxi, na Índia, é "tuk-tuk". E, apesar de ter, tecnicamente, apenas dois lugares atrás, carrega seis, sete, oito e até nove pessoas. Mais um mistério indiano: como transportar tanta gente dentro de um minúsculo meio de transporte? E mais: os indianos costumam usar o "tuk-tuk" como meio de viagens de muitos quilômetros. O que, necessariamente, inclui bagagem. Impressionante. Mais uma vez, a teoria do encaixe indiano - eles se encaixam de tal maneira dentro do minúsculo veículo que a viagem acaba dando certo.

Tudo é superlativo na Índia. Mais ainda, o trânsito. Que Deus os ajude! Ou melhor, que Shiva, Vishnu e, sobretudo, Brahma, os ajude!

AS TRUFAS TOSCANAS!

A região da Toscana, na Itália, é prodigiosa em belas paisagens naturais, em bons vinhos e na ótima gastronomia. Mas também tem muitas curiosidades. E uma delas chama  a atenção: são as valiosas trufas toscanasnotadamente as brancas (sem esquecer as negras, claro).

A trufaou tartufi (em italiano), é um fungo subterrâneonão cultivado, encontrado em poucos lugares da Itália - além de San Miniato, na Toscana, é procurada também na Umbria (região vizinha da Toscana) e Piemonte (região cuja principal cidade é Turim).

A título de curiosidade, e conforme já ressaltado acima, as trufas, que crescem em bosques de carvalhos, vêm em duas versões: a "bianco" (branca, mas com tom amarelado, com cheiro mais sedutor) e a "nero(negra, tom aveludado).

Mas o mais interessante, e que faz de San Miniato um ponto turístico, é justamente a sua caça.

A caça às trufas subterrâneas acontece no período que vai do fim de setembro a meados de dezembro. É realizada por um cão farejador (supervalorizado por conta disso!) e um "tartufaio" (caçador de trufas). Obviamente, os caçadores não contam os segredos da caça e os passeios são restritos - é necessário reservá-los, notadamente através de pacotes ou então conhecer a pessoa certa para indicar. Aliás, os cãezinhos normalmente não ficam satisfeitos com a grande presença humana, já que normalmente fazem o serviço de maneira solitária. 

Vale dizer ainda que os caçadores, após encontrar a trufa farejada, enfiam na terra um instrumento de uma maneira suave, para que a jóia não seja danificada. Um trabalho meticuloso, desde o farejamento do cão até o resgate da jóia.

Valorizadíssimo, o quilo da trufa vale 3.000 euros. Uma preciosidade enterrada em terras italianas.

Com um sabor sutil, as trufas acompanham pratos e servem como tempero. O prato mais clássico de todos com trufas é o "espaguete na manteiga salpicado com 10 g de tiras de trufas". Em San Miniato mesmo é possível saborear a iguaria, celebrada de diversos modos criativos.

KUMARI, A DEUSA VIVA DO NEPAL!

A República Democrática Federal do Nepal é, ainda, um país pouco conhecido dos brasileiros, embora sua divulgação recentemente tenha aumentado com as imagens e citações de uma novela da Rede Globo de Televisão.

Situado no subcontinente indiano, na encosta do Himalaia, uma grande cordilheira, e tendo como seu ponto mais alto o Everest, com 8.844 metros de altura, o Nepal guarda grandes imagens e muitas curiosidades. Formado por diversas etnias (são mais de cento e vinte em  seu território), tem como religião dominante o hinduísmo, havendo ainda budistas nepaleses e tibetanos.

A maior de todas as curiosidades é, sem dúvida, a deusa viva do Nepal, a Kumari, um símbolo daquele país há mais de 2.500 anos.

Kumari, ao pé da letra, significa "virgem" em nepalês. É um símbolo de pureza. Designa a criança que é considerada uma espécie de reencarnação viva (e temporária!) de Taleju Bhawani, face feminina da deusa do hinduísmo  Durga (esposa de Shiva e mãe de Ganesha, dentre outros filhos).  É adorada pelos hinduístas e budistas nepaleses - os budistas tibetanos não seguem essa crença.


A deusa viva é capa até do livro turístico local. 
Existem Kumaris em três cidades, todas do Vale de Katmandu: Katmandu, Patan e Bhaktapur.

A Kumari é escolhida, basicamente, dentro do clã Shakya, e geralmente tem entre três e treze anos. Treze anos é praticamente o máximo que a menina consegue manter o título temporário, uma vez que a primeira perda de sangue (menstruação, acidente ou doença) significa a perda do reinado. O processo de escolha é difícil, sendo valorizados muitos aspectos, como a perfeição da pele, por exemplo. Quem dá a palavra final é um astrólogo.

A Kumari de Katmandu geralmente aparece ao fim da tarde, na janela localizada dentro de seu palácio, o Kumari GharÉ uma aparição rápida, e é proibido tirar fotos. Existe uma crença que, a cada aparição, deve-se dar um dízimo em moeda nepalesa em homenagem à divindade viva.

A janela de cima. Onde a Kumari aparece.
 Kumari Ghar, Katmandu, Nepal. 

Outra crença bastante difundida é que quem casa com a Kumari geralmente morre cedo. De modo generalizado, os homens tem medo de se casar com elas depois do reinado, tudo por conta dessa crença. Muitas delas foram, ou são, casadas. Mas as últimas (pelo menos as quatro últimas) continuam solteiras...

Vale lembrar também a difícil vida dessas meninas, que vivem constantemente fechadas dentro do palácio e com pouco contato exterior, em um período que estariam no auge da infância. Mas crença é crença, não estamos aqui para discutir isso.

Dentro do Kumari Ghar, em Katmandu. 
Uma dica: cuidado ao entrar no palácio - a porta é bem baixa...

Enfim, uma história muito curiosa. Uma adoração inédita no mundo. Adoração exótica e controversa.