sábado, 5 de novembro de 2016

FUGU (ou BAIACU), O PEIXE VENENOSO JAPONÊS!

Texto de Roberto Kovalick (Tóquio, Japão)
Link: Site Jornal Hoje

O Fugu, conhecido no Brasil como Baiacu, é um dos peixes mais venenosos do mundo. Em alguns períodos da história do Japão, o prato foi proibido e até o hoje é o único que imperador japonês não pode provar, para sua própria segurança.

Fugu, vendido em mercado japonês. By Chris 73 / Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0.

Para experimentar uma iguaria tão perigosa, é melhor evitar riscos. O chef Suzuki tem 20 anos de experiência com Fugu. Os clientes costumam sair do restaurante satisfeitos e, mais importante, vivos.
O ingrediente do almoço não poderia ser mais fresco. O chef pega um dos peixes no aquário e mostra uma das habilidades do baiacu: ele infla e aumenta de tamanho quando se sente ameaçado.

Para evitar acidentes, somente cozinheiros que receberam licença do governo japonês podem preparar o Fugu. Eles passam por uma prova, depois de até 10 anos de treinamento. É preciso ter habilidade para tirar o fígado do peixe sem contaminar a carne. É nesse órgão que se concentra a tetrodoxina, um veneno que ataca o sistema nervoso central dos predadores do Fugu e, para o qual, não há antídoto.

Há tanto veneno no fígado que o chefe é proibido por lei de jogá-lo no lixo comum. Depois de retirá-lo, o chefe guarda o fígado em uma lata fechada com cadeado. Uma vez por dia, uma empresa especializada recolhe os fígados retirados pelo chefe e os leva para um incinerador. É para evitar a contaminação pelo veneno.

O chefe diz que também é preciso conhecer cada tipo de Fugu. Em uma das espécies, por exemplo, dá para comer a pele. Em outras, ela também tem veneno. Se alguém comer por engano, acaba contaminado.

Com o fígado retirado, a carne é lavada e o chefe começa a preparar um jantar completo, com quatro pratos. De entrada, uma espécie de salada, com tirinhas de Fugu. Depois, um sashimi, cortado bem fininho. O peixe é versátil. Dá para fazer churrasquinho e também cozido.

Ao experimentar o Fugu pela primeira vez, a adrenalina no corpo aumenta. Dá nervoso saber que está comendo algo potencialmente mortal, o que acaba dando um toque especial e exótico ao peixe.
O chefe explica que os japoneses gostam do peixe por seu sabor suave e delicado e nem se preocupam com o veneno, porque sabem que, nos restaurantes, o risco praticamente não existe.

Apesar disso, 21 pessoas foram intoxicadas e uma morreu no ano passado no Japão por tentar preparar o peixe por conta própria. Portanto, apesar de o Fugu ser uma delícia, é melhor não tentar repetir a receita em casa.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

PAÍSES BAIXOS, PAÍS BAIXO, REINO DOS PAÍSES BAIXOS E HOLANDA.

Apesar de adotarmos, na língua portuguesa,  o nome "Holanda" para designar o país europeu, famoso pelas tulipas e moinhos de vento,  o correto, tecnicamente, seria chamar aquela porção de terra de "Países Baixos".  O dicionário Houaiss considera Holanda como "designação não oficial dos Países Baixos" ("Pequeno Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa". São Paulo: Moderna, 2015, pág. 1051). No entanto, melhor seria definir Holanda como um conjunto de duas províncias atuais dos Países Baixos, sendo, então, incorreto designar Holanda como sinônimo, ainda que "não oficial", de Países Baixos.

Netherlands, Países Baixos, Nederland.

Assim, conforme ressaltado acima, na verdade, o designativo "Holanda" refere-se apenas a duas das doze províncias daquele país - Holanda do Norte (cuja cidade principal é Amsterdam) e Holanda do Sul (cuja cidade principal é Roterdam). As doze províncias é que são os "Países Baixos". Vale dizer que o termo "Países Baixos" é utilizado em eventos internacionais: em "neerlândes" é Nederland; em francês, Pays-Bas; em inglês, Netherlands. 

A adoção do termo Holanda talvez seja explicada pelo fato de que as suas atrações turísticas principais e cidades mais famosas mundialmente estão concentradas nas Holandas do Norte e do Sul. Assim temos Amsterdã (Holanda do Norte), Haarlem (Holanda do Norte), Haia (Holanda do Sul),  Roterdã (Holanda do Sul), Lisse (Holanda do Sul, onde estão os Jardins de Kerkeunhof). Não que outras regiões do país não tenham atrações turísticas - podemos citar aqui as cidades de Utrecht (província do mesmo nome) e Maastricht (província de Limburg) - mas o fato é que as Holandas têm, realmente, o maior número de locais turísticos.   

São "Países Baixos", diga-se,  porque um quarto da porção de terra continental europeia está abaixo do nível do mar, o que torna necessário a construção de diques e barragens.  

O "Reino dos Países Baixos", por sua vez, engloba  a porção continental europeia do país mais os caribenhos Aruba, Curaçao e Sint-Marteen. 

Há ainda três "municípios especiais" no Caribe, a saber, Bonaire, Saba e Sint Eustatius, que são chamados de "Países Baixos Caribenhos".

sábado, 18 de julho de 2015

EIRE E ULSTER!

A Ilha da Irlanda é um dos destinos mais fascinantes do mundo. Além da comentada hospitalidade característica dos nativos da ilha, a Irlanda encanta pelas soberbas belezas naturais. Mas, importante fazer a diferenciação: existem duas Irlandas- a "República da Irlanda" (ou "Eire") e a "Irlanda do Norte" (ou "Ulster").

A Irlanda (República da Irlanda, Eire) e a Irlanda do Norte. 

A República da Irlanda, ou Eire (nome do país em irlandês), possui a maior fração territorial da ilha irlandesa. É independente do Reino Unido e tem como capital Dublin. É formada por 26 (vinte e seis) condados, sendo três da antiga província do Ulster. A maioria da população é católica, demonstrando assim independência e autonomia em relação à coroa britânica. Independência que, como ato político, foi declarada em 1916, mas reconhecida somente em 1922. 

Bandeira da República da Irlanda (Eire). 

Já a Irlanda do Norte, cuja capital é Belfast, faz parte do Reino Unido, juntamente com Inglaterra, País de Gales e Escócia. Muitas pessoas chamam a Irlanda do Norte de Ulster, embora isso seja parcialmente correto, já que realmente a Irlanda do Norte tem seis condados da antiga província do Ulster em seus domínios; no entanto, outros três, como dissemos anteriormente, estão sob os domínios da República da Irlanda. Assim, boa parte do antigo Ulster, mas não a totalidade,  está dentro da fronteira norte-irlandesa (seis dos nove condados). 

Bandeira da Irlanda do Norte (evoca o Ulster).  
Não é mais utilizada oficialmente. 

A população da Irlanda do Norte, vale dizer, é, na maioria, protestante, por influência de colonos ingleses e escoceses que estiveram por ali séculos atrás - o chamado "período dos assentamentos", que teve início durante o reinado de Jaime I (1567-1625), principalmente no século XVII.

Hoje, a situação é mais pacífica entre protestantes e católicos, mas já houve época em que o IRA (Irish Republican Army, ou Exército Republicano Irlândes), braço armado dos católicos, juntamente com o Sinn Fein, o braço político, lutaram pela união entre a Irlanda do Norte e Irlanda, ou seja, pela independência da parte norte da Irlanda em relação à Inglaterra. O IRA, durante muitas décadas, promoveu atentados em busca de seus objetivos, sendo a luta armada travada contra exércitos organizados defensores do Ulster (os chamados "Unionistas"). Em um desses trágicos encontros, na cidade de Derry (hoje "Londonderry"), 14 católicos foram mortos no dia que foi considerado o "Domingo Sangrento"(30 de janeiro de 1972). A música "Sunday Bloody Sunday", da banda irlandesa U2, faz referência a esse trágico episódio.

Depois de muitas lutas, firmou-se o "Acordo de Belfast" ou "Acordo de Sexta-Feira Santa", em 10 de abril de 1998, no qual definiu-se pelo compartilhamento de poder entre protestantes e católicos naquele país e uma maior autonomia da Irlanda do Norte, inclusive com a formação de uma assembleia legislativa e a possibilidade de sempre definir seu futuro político por meio de seus próprios cidadãos. 

domingo, 29 de março de 2015

CRATERA DE DARVAZ, A "PORTA DO INFERNO"!

Um dos lugares mais curiosos do mundo é, sem dúvida, a Cratera de Darvaz, também conhecida como "A Porta do Inferno", localizada no Turcomenistão, país da Ásia Central e que já foi uma república soviética. Darvaz , vale dizer, é uma pequena aldeia daquele país, localizada no deserto de "Kara Kum".


A Porta do Inferno.
 Fotografada por Tormod Sandtorv (CC BY - SA 2.0)

 A fabulosa "Porta do Inferno" é, na verdade, uma cratera com 60 metros de diâmetro e 20 metros de profundidade, que está em chamas desde 1971. A abertura surgiu a partir de escavações dos soviéticos em busca de petróleo e gás natural. A partir disso, e considerando-se que a cratera estava cheia de gases tóxicos, os soviéticos resolveram queimá-la. O fato é que a fenda continua queimando até hoje, indefinidamente.

Existe uma corrente minoritária de pesquisadores que afirma que a formação é natural. 

segunda-feira, 23 de março de 2015

O PALIO, A GRANDE FESTA DE SIENA!

Siena, na Toscana, é uma cidade belíssima. Mas o que faz de Siena uma cidade diferenciada é mesmo a expectativa gerada, o ano todo, pelo "Palio di Siena", o mais fabuloso festival italiano.

"Palio di Siena" é uma festa típica da urbe, cujo ápice é uma corrida de cavalos, que ocorre na "Piazza Del Campo", ou "Campo" para os sienenses, todo dia 02 de julho, com repeteco no dia 16 de agosto, às 19 horas. São dezessete "contrades', representando bairros da cidade, dos quais dez são sorteados para o primeiro embate, em Julho. Em agosto, no segundo e mais importante embate, os sete que não foram sorteados participam automaticamente, sendo que os outros três participantes saem do sorteio entre os dez que disputaram em julho.


O Palio de Siena. Bandeiras das contrades e corrida de cavalos. 
Em foto de cartão-postal da cidade.

A origem do Palio é superinteressante. Os distritos sienenses, chamados "contrades", são o resultado do declínio do governo central, ainda na Idade Média. Ganharam força, e deu-se o início ao festival. O principal dos eventos, o de agosto, iniciou-se, no século XIII,  como uma homenagem à Virgem Maria e, também, como comemoração da vitória sobre Florença na batalha de Montaperti.  O festival de julho, por sua vez, só foi aprovado em 1656, e é uma homenagem à figura religiosa de Nossa Senhora, mais especificamente à "Madona di Provenzano".

Interessante observar que, no século XIII, os contrades eram em torno de 80. Desses, hoje apenas 17 lutam pela hegemonia da cidade.

Os dezessete distritos são divididos em três "terzos" (espécies de regiões da cidade): Cittá (Aquila, Chiocciola, Capitana Dell´Onda, Pantera, Selva, Tartuca); San Martino ( Civetta- coruja, Leocorno, Nicchio, Valdimontone, Torre) e Camolia (Bruco, Drago, Giraffe, Istrice, Luppa e Oca). Curiosamente, muitos dos distritos são representados por animais - coruja, pantera, tartaruga, dentre outros.

O ponto alto é mesmo a corrida de cavalos, que demora menos de dois minutos. Também o tremular das bandeiras, feita por representantes de cada contrade, e os tambores constituem um grande espetáculo.

Vale destacar que existem outros "palios" por toda a Itália; no entanto, o mais famoso mundialmente é mesmo o de Siena.

É praticamente impossível assistir à festa, já que a multidão toma conta da "Piazza". Mas é possível fazer reservas em hotéis para assistir de uma posição mais confortável, já que, no meio da multidão, o turista teria que chegar bem cedo e esperar muitas horas para conseguir seu objetivo.

domingo, 22 de março de 2015

OS VINHOS TOSCANOS!

Toscana é uma das principais regiões vinícolas do mundo - ali tudo é propício para o desenvolvimento das uvas e, em decorrência, da viticultura, desde os campos até o clima. Em suma, um paraíso para os  enófilos.

Os principais vinhos da região são o "Brunello di Montalcino", o "Vino  Nobile di Montepulciano", o "Chianti" (representado pelo "gallo nero"), o "Vernaccia de San Gimignano" e os menos reconhecidos "Super Toscanos". 

Destes, apenas o Vernaccia de San Gimignano é branco - o único vinho branco respeitado da região, já que os tintos são os melhores, mais famosos e mais conhecidos internacionalmente. Vale destacar: os brancos não são feitos com uvas típicas da região.

O mais valorizado dos vinhos tintos toscanos é, indiscutivelmente, o "Brunello di Montalcino". A sua produção é cuidadosa: feito inteiramente das uvas sangioveses, é envelhecido por pelo menos 04 (quatro) anos. Das sobras de uvas, é feito o seu "primo" menos famoso: o "Rosso di Montalcino".

No tocante ao Chianti, algumas explicações são necessárias. Primeiro, há de se destacar que "Chianti" era o designativo da região localizada entre o sul de Florença e o norte de Siena - é a zona original. Após, houve uma expansão do nome, para alcançar áreas centrais da Toscana. Hoje, a área original, entre Florença e Siena, é chamada de "Chianti Classico".

A marca do Chianti Clássico. O Galo Negro.

No que se refere aos Chianti, os vinhos clássicos, que possuem o galo negro como símbolo nos rótulos, são considerados os melhores. Todos os vinhos Chianti são regulamentados, sendo obrigatório pelo menos 75 a 80% de uva sangiovese na composição. O mais caro é o que advém do estoque chamado "riserva".

Os barris.
Por sua vez, o "Vino Nobile di Montepulciano" é um intermediário entre o "Brunello" e o "Chianti". É menos ácido que o último e mais suave que o primeiro. Assim como o Brunello, tem uma versão mais barata: o "Rossi di Montepulciano".

Os Super Toscanos são criticados justamente por não terem uma identidade característica toscana - usam uvas de outras regiões, como a "cabernet sauvignon" e a "merlot". A origem dos "Super Toscanos" é a década de 70, época em que muitos produtores revoltaram-se contra as imposições de regulação dos vinhos toscanos. Passaram, com isso, a misturar e a envelhecer vinhos de maneira inovadora. São menos valorizados, mas alguns são muito apreciados, a exemplo do Sassicaia e o Tignanello.

A Itália atribui rótulos de qualidade aos vinhos: o IGT, o DOC e o DOCG.

O DOC (Denominazione d´Origine Controllata) indica que o vinho precisa ser produzido numa região específica, com um regramento próprio, que inclui a variedade de uva e técnicas de viticultura.

Por sua vez, o DOCG (Denominazione d´Origine Controllata e Garantita) é o selo de maior prestígio. Somente 08 (oito) vinhos na Toscana possuem tal honraria (44 na Itália): Brunello di Montalcino, Carmignano, Chianti, Chianti Classico, Morelino di Scansano, Vernaccia di San Gimignano, Vino Nobile di Montepulciano e Elba Aleatico Passito.  São os produzidos em subterritórios de áreas DOC.

Já o IGT (Indicazine Geografica Típica) é a categoria dos supertoscanos. São de alta qualidade, mas não tem as características DOC ou DOCG.

A Toscana, de olho no mercado turístico, criou "stradas del vino". São várias, a exemplo da "Strada del Vino Nobile di Montepulciano" ou "Strada Del Vino Costa Degli Etruschi", que são duas das principais. Todas têm, em comum, mapas, itinerários, sendo possível degustar vinhos em "cantines" (adegas) e "enoteches" (bares de vinhos). Vale a pena alugar um carro ou mesmo fazer a rota por bicicleta.

Enfim, uma síntese do que há de melhor em vinhos toscanos. Aproveite e curta cada momento de prazer em terras toscanas!

"VACA IS NO PROBLEM", O LOUCO TRÂNSITO INDIANO!

Beep, beep! A onomatopeia clássica indiana. O primeiro som mais forte que se ouve desde a saída do aeroporto. E bota forte nisso! São milhares de buzinas ao mesmo tempo! O trânsito mais desorganizado e bagunçado do mundo. A primeira pergunta: como achar  espaço para tanta gente e tantos veículos? Muitas motos, muitas bicicletas, muitos "tuk-tuks", muitos "riquixás", muitas pessoas, muitos carros, muitos animais. Tudo "muito". Tudo "over".  Eis o mistério da fé indiana. A fé de que andar nas ruas, dirigir, não vai trazer nenhuma conseqüência. A fé em que os motoristas mais malucos do mundo não farão nada além de buzinar e seguir seu caminho em meio ao caos.  A fé em que você irá se "encaixar", seja em riquixá, em "tuk-tuk", moto ou mesmo em carro comum, em meio ao caos. 

Dizem os indianos que, para ser motorista naquele país, são necessários três “goods”: good horn, good brake e good luck. Em bom português, "boa buzina, bom freio e boa sorte".

Realmente, eles têm razão. Ao menor sinal de uma vaca ou um búfalo atravessando a rua, eis que surge a instituição nacional indiana: a buzina. É buzina pra lá, é buzina pra cá, uma festa completa. Buzina, na Índia, não é considerada ofensiva; é, antes de tudo, uma necessidade. E bota necessidade nisso... Para se ter uma ideia, até os caminhões estimulam a buzina. Em vez de frase de para-choque, há uma indicação ao motorista incauto que vem atrás dizendo "por favor, buzine".

Certa feita, em uma viagem entre Jhansi  e Kajhuraho, ao perceber o medo que eu sentia das vacas na pista, o motorista indiano sentenciou, em um portunhol misturado com inglês: “Vaca is no problem”.  De fato, é quase um mandamento indiano: “Vaca is no problem”. A vaca, calma e sagrada, dizia ele, é muito inteligente e sempre anda em linha reta, nunca atrapalhando os motoristas. E completou: “Touro is burro”, embora a recíproca não fosse verdadeira (“burro” no is “touro”, em um portunhol misturado com inglês, novamente).

A vaca é mesmo um caso incrível – é o único ser vivo que o motorista indiano acredita, uma vez que ela não muda a direção na pista. Todos os outros animais que povoam as estradas, ruas e avenidas daquele país são considerados perigosos- cavalos, búfalos, galinhas, elefantes, camelos e, principalmente, os humanos.

Na faixa de pedestres indiana, a vaca tem a preferência...

Nessa mesma estrada, entre Jhansi e Kajhuraho, tivemos a oportunidade de presenciar a mais engraçada experiência do trânsito indiano: a linha de trem fechada. De um lado, o pessoal que vinha de Kajhuraho para Jhansi; de outro, nós, que queríamos chegar nos famosos templos eróticos hinduístas. Formou-se duas facções de motos, carros, caminhões, tuk-tuks, de um lado e de outro. E na hora que abriu? Muito engraçado. Cada um tentando se encaixar e seguir adiante. Lembram da osmose, aquela liçãozinha de biologia dos tempos de colégio? É exatamente o processo que ocorreu aqui. É mais ou menos um pedestre tentando seguir em frente vindo mil do lado contrário, só que com veículos...

A sorte dos indianos é que andam em velocidade baixa; caso contrário, o índice de acidentes nas grandes cidades seria triplicado. Quando estive por lá, dei muita sopa no trânsito, e não vi nenhum acidente, nem nas grandes cidades, nem nas estradas, o que é um autêntico milagre de Shiva. Mas há estatísticas que indicam que a Índia é a campeã mundial de acidentes em estradas, com cerca de cento e trinta mil mortes por ano. Isso mesmo, cento e trinta mil, uma Araguari inteira mais um Ibiá. Tudo é superlativo na Índia...

Mas, vem a pergunta: qual a maior aventura no trânsito indiano? A resposta é rápida: andar de riquixá. O riquixá é uma bicicleta com uma cabine que dá para no máximo duas pessoas atrás. Ou seja, uma bicicleta com ares de charrete, uma versão do "tuk-tuk" sem motor. Nela, o "bicicleteiro" indiano faz um esforço descomunal não só para guiá-la, mas sobretudo para andar no trânsito. Não existe passeio com ou sem emoção: é sempre muito emocionante. Perto do riquixá, o "tuk-tuk" parece ser o meio de transporte mais seguro do planeta.


Os riquixás em uma nublada, caótica e poluída Délhi (a velha)...

O passeio de riquixá pelas ruas de Velha Delhi é uma autêntica aventura...

Aliás, o "tuk-tuk" é uma atração à parte. Táxi, na Índia, é "tuk-tuk". E, apesar de ter, tecnicamente, apenas dois lugares atrás, carrega seis, sete, oito e até nove pessoas. Mais um mistério indiano: como transportar tanta gente dentro de um minúsculo meio de transporte? E mais: os indianos costumam usar o "tuk-tuk" como meio de viagens de muitos quilômetros. O que, necessariamente, inclui bagagem. Impressionante. Mais uma vez, a teoria do encaixe indiano - eles se encaixam de tal maneira dentro do minúsculo veículo que a viagem acaba dando certo.

Tudo é superlativo na Índia. Mais ainda, o trânsito. Que Deus os ajude! Ou melhor, que Shiva, Vishnu e, sobretudo, Brahma, os ajude!